terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A sempre presente nostalgia.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Por mais que ver todos os dias a mesma pornografia nojenta e a usura do seu corpo como material de prazer seja sempre igual, não dá para se acostumar e ser indiferente a essa realidade. Eu preciso sempre ser forte, ser firme, ser fria. Eu preciso sempre manter em mim um sentimento de nostalgia, e pensar que pelo menos nem sempre foi assim.
Quando eu fugi de casa, achava que minha vida iria melhorar. Claro, se não para que faria isso? Mas logo essa doce ilusão tão certa se transformou em um sonho distante e a minha realidade se fixou na vida difícil de uma mulher solitária.
Eu me lembro que estava perdida. Não sabia o que fazer. Não tinha para onde ir. Até conhecer o maldito Jamie Jerkoff. Um homem magro, de meia idade e com cara de safado e de aproveitador. Mas naquela idade eu não tinha essa mesma concepção, via-o como um homem bondoso que se oferecera para me acolher em sua não tão humilde casinha de uns quinhentos salários mínimos. Ele me encontrou na rua, com fome, frio e sem ninguém. Levou-me ‘caridosamente’ para lá. No começo me senti muito feliz. Achei que todos os meus problemas estavam resolvidos e que aquele bom e rico homem sem filhos iria me dar uma vida decente. Ganhei um quarto, ganhei alimentação, ganhei estudo, ganhei atenção. Realmente estava tudo perfeito, mas constantemente eu via olhares safados e suspeitos de Jamie para mim. Principalmente quando eu estava na piscina, ou quando saía do banho. Naquele tempo eu não sabia no que ele trabalhava. O que me foi dito foi apenas que ele era dono de um certo local de diversão. Certa madrugada, ele chegou do seu trabalho e eu estava vendo tevê no seu quarto. Eu tinha liberdade ali. Estava usando um pijama infantil demais para meus 15 anos e me debruçava sobre seus quilos de travesseiros de pena de ganso, olhando fixamente para o filme a minha frente. Jamie chegou, despiu-se e deitou ao meu lado, dizendo que iria assistir ao filme comigo. De pouco em pouco, ele se aproximava mais. Passava os dedos levemente pelas minhas costas e me olhava sem parar. Eu estava achando aquilo bom, afinal, não tinha pensamentos maldosos quanto a ele. Até a hora que ele desligou a televisão e foi para cima de mim. Eu não estava entendendo nada, mas não era tão inocente assim. Ele estava deitado por cima de mim e forçava minhas pernas para os lados com as suas, enquanto afastava minha roupa com as mãos. “O que você está fazendo, Jamie? Enlouqueceu?”, eu perguntava. “Já está na hora de virar uma mulher”, ele respondia. Foi assim, confusa, com dor e com medo que perdi a minha virgindade.
Nos dias que se seguiram, eu não soube o que fazer. Ele ia todas as noites até o meu quarto, cheirava-me e me deitava com violência na cama. “Esse seu corpinho de menina me deixa louco”, ele dizia. Comecei a achar aquilo normal. Passei a pensar que gostava dele, que gostava de transar com ele. Em minha cabeça nós formávamos um casal e estávamos iniciando uma vida sexual muito excitante. Comecei a querer aquilo, a esperá-lo em meu quarto todas as noites. Em preparar surpresas para ele. Pedi alguns filmes pornôs, para saber como dar-lhe mais prazer. Ele me deu, adorando a idéia. Dizia que eu tinha vocação para dar, e que ele já não conseguia dormir sem me invadir completamente antes.
Mas a relação não foi um mar de rosas. Comecei a achar que éramos compromissados. Quando ele voltava mais tarde ou viajava eu pedia explicações, o que rendia muitas brigas violentas entre nós. Às vezes ele até me batia, cansado de me dizer que eu nada tinha a ver com aquilo, o que começava com raiva e acabava em sexo, uma vez que isso sempre me excitava. Mas eu fui crescendo, fui entendendo que era só questão de desejo. Fui percebendo no que ele trabalhava. Fui vendo que logo seria a minha vez. Compreendi que se eu não desse para ele, ele me expulsaria de casa. Aí, de certa forma, eu já era uma prostituta. Livre para ir embora, mas sabendo o que me esperaria se eu fosse.
Ficamos nisso até eu completar 18 anos. Nesse dia ele disse que ia me levar para conhecer seu trabalho como presente de aniversário. Chegando lá tirei todas as minhas dúvidas, vendo mulheres semi-nuas dançando em mesas com ferros no centro. Ele me levou para um quarto e foi muito sincero comigo. Jamie me comeu mais uma vez e depois disse, acendendo um charuto: “Agora você vai pagar em dinheiro por tudo que eu lhe dei. Agora você tem a chance de me retribuir. Agora você trabalha para mim”. Nesse dia eu passei de prostituta por opção para prostituta por necessidade.
O meu luxo em sua casa diminuiu. Todo dinheiro que eu recebia ficava com Jamie. Quando eu completei 21 anos ele, que já havia enjoado de mim, mandou-me arrumar um lugar para morar e começou a me pagar como uma das putas de seu bordel. Eu não tinha para onde correr. Era só transar o que eu sabia fazer.
Hoje finjo gratidão para com ele, mas se eu tivesse oportunidade de cravar-lhe uma faca nas costas, não desperdiçaria. Se eu pudesse castrá-lo iria adorar, mesmo que isso me custasse alguns aninhos sem liberdade. O que não seria nada, comparado ao trauma que ele já me proporcionara e a tudo que ele fez para me corromper. Mas a pessoa fria que eu me tornei com tantas experiências me faz esperar pelo momento certo de me vingar.

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