quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Presentes de Natal.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Quando eu era criança/adolescente passava os natais com a família. Ficávamos ao redor de uma mesa, comendo calados. Quando terminávamos, cada um ia para a sua cama e dormia. Nos meus primeiros anos com Jamie, passei uns comendo ao seu lado em algum restaurante caro, outros comendo sozinha enquanto ele supostamente trabalhava. Desde que comecei a morar sozinha, se não passei o natal com algum cliente, combrando mais caro, é claro, passei sozinha andando por aí.
Esse foi o meu primeiro natal no qual eu ganhei algum presente. Melissa. E mais alguns da família Nutz. De Nina um belo vestido para domingo --', de Maurício um cartão bem enfeitado dizendo "Te adoro tia Lúcia", de Ana nada, ela ainda é muito pequena, e de Nolan, além de seus olhares desejosos quando lhe dou as costas, um vestido de noite vermelho, aparentemente ele espera que um dia eu saia com ele usando-o --'.
Por conta de, às vezes, sentir certa inveja de Nina por tudo que ela conseguiu e eu não, certas horas me sinto superior por ter seu marido como meu admirador. Mas já está passando da conta. Um dia ele até tentou me agarrar quando estávamos sozinhos. Eu quase dei-lhe um tapa, mas no fundo, no fundo eu gostei. Nolan me deseja como mulher, não como prostituta. É isso que me atrai nele.
Disse para Nina que não poderia viajar para passar o Natal com a família por conta do trabalho e que ficaria com ela. Ele disse ter adorado a idéia, mas notei um tiquinho de contrariedade. Talvez ela quisesse ficar sozinha com a família. Juntas, preparamos a ceia enquanto Nolan e Maurício faziam as compras de natal e Melissa e Ana brincavam de boneca. Eu não tirava os olhos de minha sapequinha e por isso quase deixei um bolo queimar.
Depois de todos termos comido e trocado presentes, tirei a mesa e levei a louça para a pia da cozinha. No caminho de volta para a sala, entrei em um banheiro e encontrei nina enconstada na pia, chorando. Fechei a porta e tentei conversar com ela, tentei fazer com que ela me explicasse o motivo do choro. E depois de uns 20 minutos ela explicou. Seu casamento estava em decadência e ela não sabia o que fazer para dar vida de novo a tudo. Nolan não a olhava mais como mulher, só como mãe dos seus filhos. Eles brigavam bastante antes de dormir e ele não dava-lhe mais carinho. Senti um grande peso na consciência ao ouvir aquilo. Conversamos um pouco, eu disse para ela que era fase, ela parou de chorar depois de um tempo e foi lavar os pratos. De madrugada, quando todos dormiam... Nolan foi ao meu quarto dar o meu verdadeiro presente... me beijou, me deitou e eu não resisti. Esse foi o presente que dei à Nina, a nunca fora de moda traição.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Hoje a palavra 'mudança' teve vários significados para mim.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Ando tão confusa ultimamente. Não sei o que faço quanto à Melissa. Quem vai cuidar dela enquanto eu estiver no trabalho? Será que é justo com ela criá-la? Como ela vai se sentir quando tiver consciência de que sua 'mãe' é uma prostituta? E quanto às leis... Eu preciso ter a guarda da menina... até para matriculá-la em uma escola será difícil. Mas o meu amor, o meu amor... não permite de jeito nenhum afastá-la de mim. Ao ver Melissa em meus braços, pela primeira vez na vida, senti que algo ou alguém, no fundo, pelo menos, quer minha felicidade. E isso me comove, e isso me dá mais vontade de criar essa ruivinha que parece ter sido trazida por uma cegonha.
Peguei minhas coisas e fui embora com 'minha filha' hoje, mais cedo. Dona Neyde me viu, "Bom dia querida! Quem é essa princesinha?", "Bom dia, dona Neyde!, Essa é Mel, filha de uma amiga que está no Exterior. Estou cuidando dela para Sarah, minha amiga". "Ah sim, mas você está de mudança?", "É, vou para a casa de minha mãe. Ela me ajudará a cuidar de Melissa".
Fui no carro do frete com Mel para a casa de Nina. Admito que estava muito nervosa em fazer isso. Chegar assim, sem avisar. E ter que contar mentiras e mentiras para desviar os verdadeiros fatos sobre Melissa, e fingir que vou organizar festas, quando na verdade vou ficar de quatro para alguém. Mas tudo vale a pena quando vejo os olhinhos claros da menina fecharem-se no meu colo, tranqüilos e seguros.
Nina me recebeu bem. Contou-me que resolvera passar mais uns 3 meses na cidade e a minha presença seria muito prazerosa. Sempre prazerosa :x Conheci seu marido, Nolan... e isso foi mais um problema para mim. Nolan era alto, cabelos castanhos, sorriso brilhante e com um olhar sexy. Ele me fez sentir uma atração antiga, dos tempos que eu me interessava por homens os quais não sabiam que para ouvir meus gemidos precisavam pagar. Ele me olhou de um jeito estranho. Ele me olhou fixamente. Ele me olhou bastante. Eu desviei o olhar e expliquei à Nina que a mãe de Melissa estava no exterior e que por enquanto a menina precisaria ficar comigo.
Nosso quarto, meu e de Mel, ficava ao lado do quarto do casal.
Eu dormi na distração de ver a pequena ruiva pegar num sono à minha frente.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Às vezes acontecem coisas que me fazem acreditar em Deus.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Sempre fui estranha. Acho que a solidão, com a qual eu já nasci, dava-me esse ar diferente. Sempre reprimi meus sonhos, abafei meus mais profundos desejos, sempre me recriminei e me proibi de lutar por alguma vontade. Talvez porque tentar me fizesse perder tempo e eu não sou nenhuma perua rica com dinheiro para isso. Ou porque o medo de ser uma fracassada me paralisa e me tira qualquer coragem. Mas apesar de não buscar a conquista de minhas necessidades, sempre alimentei uma esperança, como uma sementinha a qual eu rego na crença de que um dia, talvez, ela se torne uma grande árvore.
Uma vez por mês eu visito um orfanato. Sempre quis ser mãe, como já falei várias vezes aqui. Ao chegar lá sou tomada por um sentimento diferente, mas já estou acostumada. Uma coisa metade sonho, metade fracasso. Metade meta, metade ilusão. Em meus olhos sinto um brilho de quem diz, “ainda vai chegar a minha vez”. Mas eu sinto um arrepio gritante. Ele me sussurra no ouvido de um modo frio que eu não sou o tipo de gente que merece uma criança, que é digna de dar amor e educar alguém. Eu vejo a luta constante dessas duas sensações. Travam batalhas quase intermináveis dentro de mim, tendo como vítima de sua guerra o meu sofrimento, a minha agonia, a minha angústia.
Algumas crianças do orfanato já me conhecem e me chamam de tia Lúcia. Fico horas e horas pensando no sofrimento daquelas pessoinhas. Na vontade de ter alguém. Na vontade de ter um lar. Mas crianças são crianças. Por mais que o sofrimento seja grande, quase sempre as encontramos rindo e brincando.
Sempre que possível eu levo alguns presentinhos. Coisas simples, mas que fazem surgir naqueles olhinhos curiosos um grande brilho de felicidade. Há uma garotinha lá chamada Jéssica. Sinceramente, é a minha preferida. Uma mocinha com seus cinco anos de idade muito bem aproveitados, que se acha muito esperta (e que é), brincalhona e extrovertida. Uma garotinha pequena no tamanho, mas grande no ser. É ela que eu tenho mais vontade de adotar. Já perdi (ou ganhei) dias imaginando Jéssica em minha vida. Nós duas na praia, tomando sol. Nós duas viajando, olhando a paisagem. Nós duas na cozinha, preparando o jantar. Nós duas no shopping, fazendo compras. Nisso lágrimas já me subiram nos olhos, e já me desceram de lá diversas vezes.
A meninha me deixa feliz, só por existir. Parece que seus pais biológicos foram assassinados por uma questão de drogas. Jéssica fica ali, branquinha dos cabelos negros, pulando e sendo feliz como quem já nasceu naquele lugar e não busca saber a verdade sobre suas raízes. Ainda não, com seus cinco aninhos de idade. Olhando para ela sinto cada vez uma vontade maior de ser mãe. Imagina você... alguma assistente social ceder a guarda de uma criança para uma prostituta solitária. Isso destrói qualquer sementinha.
Mas ontem algo me aconteceu, algo inacreditável. Como se alguém soubesse dos meus sonhos e quisesse a minha felicidade. Como se eu fosse protagonista de uma novela mexicana. Ontem... uma criança foi deixada à minha porta. Ela deve ter uns dois anos e meio. É uma menina, uma menina ruivinha e chorona. Estava dormindo em um cobertor rasgado, e, como que de um modo muito clichê, tinha uma carta amarrada em seu punho. Onde dizia claramente: “Cuide dela como se fosse sua. Para você é um presente, para mim um alívio”. A carta não tinha assinatura. Não dizia o nome da menina. Mas embaixo, dentro do envelope ainda, estava sua certidão de nascimento. E um ‘P.S.’, pedindo para eu não ir atrás da mãe, pelo nome contido no documento. Afirmando não ter nem tempo, nem amor, nem dinheiro para cuidar de Melissa. Melissa era o nome do meu sonho entregue a domicílio.
Ela está ali, deitadinha. Só não chora quando dormi mesmo. Os vizinhos devem estar achando estranho. Pode ser que eles denunciem para alguém. Não sei o que fazer. Se a levo para um orfanato. Se cuido dela como minha filha. Acho que vou me mudar daqui com Melissa, para evitar qualquer tentativa de corromper meu primeiro sonho realizado.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um encontro com o passado.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Uma folha em branco, um convite. Um Sol nascendo, um convite. Uma cama bagunçada, um convite. O que mais é um convite para você?
Saí para passear como quem nada queria. Fazia tempo que eu não gastava minhas manhãs pelas ruas secas de minha cidade.
Meus vizinhos sabem como eu ganho meu dinheiro, então, pelo instinto de se preservarem, não falam comigo. Há apenas uma senhora, sem filhos, netos, sem ninguém. Ela mora em um apartamento de 4 quartos, cujo andar é em cima do meu. Meu apartamento é pequeno. Tem dois quartos, um para eu dormir, outro onde eu entulho coisas que não uso mais. Essa senhora, dona Neyde, só não é mais sozinha por que deve ter uns 20 gatos em sua casa. Todos com seus nomezinhos e corezinhas enfeitando o lugar. E que lugar! Lugar belo para se morar, principalmente com uma família. Com uns três filhos, um marido, um papagaio... enfim, daria para construir uma vida maravilhosa ali. Dona Neyde, não sei por que, era a única moradora de nosso prédio que falava comigo. Talvez seja por que temos a solidão como algo em comum. Talvez seja porque ela possa não saber quem realmente sou. Talvez seu coração seja doce e ela me aceite mesmo assim. E é a única, também não sei por que, para quem falei meu nome verdadeiro. Desci com uma roupa decente, encontrei com ela na portaria e ela me cumprimentou com aquele sorriso e olhos tão meigos e com um de seus gatos no colo, a quem chamava de ‘roqui’.
Fui andando lentamente pela rua, tomando um sorvete de chiclete, sorrindo. Parei em uma praça, não muito movimentada devido ao horário. Sentei-me em um banco e fiquei observando as crianças brincarem. Uma das mães que se encontrava em uma roda de outras mulheres me viu e logo em seguida pegou seu filho pela mão e foi embora com ele. Depois disso, outras três fizeram a mesma coisa. Sinceramente, já faz muito tempo que eu me acostumei a esse tipo de recpção.
Outra mulher chegou, com uma menina nos braços ela passeava cantarolando uma música infantil. De olhos fechados, ela passava a mão com uma aliança chamativa sobre os loiros cabelos da criança. Sentou-se ao meu lado e me cumprimentou. No mesmo instante a reconheci. Era Nina Nutz, estudamos juntas durante muitos anos, antes de eu fugir de casa. Não sei se meus pais disseram lá que eu fui embora. A princípio, não gostei de vê-la ali. Éramos ‘inimigas’ em nosso tempo de colégio. Namorávamos os garotos mais populares, andávamos com as pessoas mais legais. E nos odiávamos. Agora a via ali à minha frente. Linda, aparentemente rica, casada e mãe de uma bela filha. Tudo o que eu queria ter e ser. Tudo que eu poderia ter e ser se tivesse continuado no meu caminho. Se não tivesse me desviado. E, talvez, se não tivesse conhecido Jerkoff. Nina também se lembrou de mim, mas parecia não ligar para o fato de termos sidos inimigas durante anos. Demonstrava ser madura.
Ela me perguntou como andava a vida, se eu tinha me casado, se tinha filhos. Eu tive que inventar uma história, mentir que estava trabalhando em uma empresa de festas, dizer que não me casei por que não quis casar. Nunca que eu falaria a verdade, seria humilhante. Por horas conversamos. Ela me falou de seu marido, Nolan, de seus dois filhos, Maurício e Ana, a loirinha. Rimos bastante de nosso passado juntas. Não lembramos por que não nos gostávamos, afinal, tínhamos tudo a ver uma com a outra. Ela disse que eu me tornara uma linda mulher, mal sabia ela que isso era o meu instrumento de trabalho.
Senti bastante inveja de Nina, admito, e ela ainda me lembrava a época de que eu queria esquecer, mas fazia tempo que eu não conversava com alguém assim, de igual para igual. Sem me sentir inferior ou submissa. Alguém que não me julgasse, que não me recriminasse. Alguém que me fizesse me sentir bem. Ficamos amigas incrivelmente. Ela me convidou para passar uns dias em sua casa, na minha antiga cidade. Estava passando férias aqui e disse que foi muito bom ter me reencontrado, que não queria que perdêssemos o contato. Eu disse que iria pensar. Trocamos telefones.
Sinto-me muito solitária, todos os dias. Talvez a cada dia me sinta mais. Porém hoje senti um sentimento diferente. Era uma inveja, misturada com saudade, temperada com felicidade, recheada com mais e mais solidão. Juro que eu queria fazer algo igual amanhã.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A sempre presente nostalgia.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Por mais que ver todos os dias a mesma pornografia nojenta e a usura do seu corpo como material de prazer seja sempre igual, não dá para se acostumar e ser indiferente a essa realidade. Eu preciso sempre ser forte, ser firme, ser fria. Eu preciso sempre manter em mim um sentimento de nostalgia, e pensar que pelo menos nem sempre foi assim.
Quando eu fugi de casa, achava que minha vida iria melhorar. Claro, se não para que faria isso? Mas logo essa doce ilusão tão certa se transformou em um sonho distante e a minha realidade se fixou na vida difícil de uma mulher solitária.
Eu me lembro que estava perdida. Não sabia o que fazer. Não tinha para onde ir. Até conhecer o maldito Jamie Jerkoff. Um homem magro, de meia idade e com cara de safado e de aproveitador. Mas naquela idade eu não tinha essa mesma concepção, via-o como um homem bondoso que se oferecera para me acolher em sua não tão humilde casinha de uns quinhentos salários mínimos. Ele me encontrou na rua, com fome, frio e sem ninguém. Levou-me ‘caridosamente’ para lá. No começo me senti muito feliz. Achei que todos os meus problemas estavam resolvidos e que aquele bom e rico homem sem filhos iria me dar uma vida decente. Ganhei um quarto, ganhei alimentação, ganhei estudo, ganhei atenção. Realmente estava tudo perfeito, mas constantemente eu via olhares safados e suspeitos de Jamie para mim. Principalmente quando eu estava na piscina, ou quando saía do banho. Naquele tempo eu não sabia no que ele trabalhava. O que me foi dito foi apenas que ele era dono de um certo local de diversão. Certa madrugada, ele chegou do seu trabalho e eu estava vendo tevê no seu quarto. Eu tinha liberdade ali. Estava usando um pijama infantil demais para meus 15 anos e me debruçava sobre seus quilos de travesseiros de pena de ganso, olhando fixamente para o filme a minha frente. Jamie chegou, despiu-se e deitou ao meu lado, dizendo que iria assistir ao filme comigo. De pouco em pouco, ele se aproximava mais. Passava os dedos levemente pelas minhas costas e me olhava sem parar. Eu estava achando aquilo bom, afinal, não tinha pensamentos maldosos quanto a ele. Até a hora que ele desligou a televisão e foi para cima de mim. Eu não estava entendendo nada, mas não era tão inocente assim. Ele estava deitado por cima de mim e forçava minhas pernas para os lados com as suas, enquanto afastava minha roupa com as mãos. “O que você está fazendo, Jamie? Enlouqueceu?”, eu perguntava. “Já está na hora de virar uma mulher”, ele respondia. Foi assim, confusa, com dor e com medo que perdi a minha virgindade.
Nos dias que se seguiram, eu não soube o que fazer. Ele ia todas as noites até o meu quarto, cheirava-me e me deitava com violência na cama. “Esse seu corpinho de menina me deixa louco”, ele dizia. Comecei a achar aquilo normal. Passei a pensar que gostava dele, que gostava de transar com ele. Em minha cabeça nós formávamos um casal e estávamos iniciando uma vida sexual muito excitante. Comecei a querer aquilo, a esperá-lo em meu quarto todas as noites. Em preparar surpresas para ele. Pedi alguns filmes pornôs, para saber como dar-lhe mais prazer. Ele me deu, adorando a idéia. Dizia que eu tinha vocação para dar, e que ele já não conseguia dormir sem me invadir completamente antes.
Mas a relação não foi um mar de rosas. Comecei a achar que éramos compromissados. Quando ele voltava mais tarde ou viajava eu pedia explicações, o que rendia muitas brigas violentas entre nós. Às vezes ele até me batia, cansado de me dizer que eu nada tinha a ver com aquilo, o que começava com raiva e acabava em sexo, uma vez que isso sempre me excitava. Mas eu fui crescendo, fui entendendo que era só questão de desejo. Fui percebendo no que ele trabalhava. Fui vendo que logo seria a minha vez. Compreendi que se eu não desse para ele, ele me expulsaria de casa. Aí, de certa forma, eu já era uma prostituta. Livre para ir embora, mas sabendo o que me esperaria se eu fosse.
Ficamos nisso até eu completar 18 anos. Nesse dia ele disse que ia me levar para conhecer seu trabalho como presente de aniversário. Chegando lá tirei todas as minhas dúvidas, vendo mulheres semi-nuas dançando em mesas com ferros no centro. Ele me levou para um quarto e foi muito sincero comigo. Jamie me comeu mais uma vez e depois disse, acendendo um charuto: “Agora você vai pagar em dinheiro por tudo que eu lhe dei. Agora você tem a chance de me retribuir. Agora você trabalha para mim”. Nesse dia eu passei de prostituta por opção para prostituta por necessidade.
O meu luxo em sua casa diminuiu. Todo dinheiro que eu recebia ficava com Jamie. Quando eu completei 21 anos ele, que já havia enjoado de mim, mandou-me arrumar um lugar para morar e começou a me pagar como uma das putas de seu bordel. Eu não tinha para onde correr. Era só transar o que eu sabia fazer.
Hoje finjo gratidão para com ele, mas se eu tivesse oportunidade de cravar-lhe uma faca nas costas, não desperdiçaria. Se eu pudesse castrá-lo iria adorar, mesmo que isso me custasse alguns aninhos sem liberdade. O que não seria nada, comparado ao trauma que ele já me proporcionara e a tudo que ele fez para me corromper. Mas a pessoa fria que eu me tornei com tantas experiências me faz esperar pelo momento certo de me vingar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mais um dia nublado.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Sempre odiei acordar cedo. Felizmente, nunca precisei. A minha rotina é bem diferente.
De manhã, acordo a qualquer hora. Não trabalho de dia mesmo. Fico andando pelo meu apartamento pequeno, escuro... vazio. Como alguma coisa. Vejo um pouco de televisão. Saio para olhar a rua, os pombos. Sinto frio.
De tarde, como outra vez. Vejo umas revistas de beleza. Compro algumas roupas. Sonho um pouco com uma vida diferente, mas paro antes que comece a escurecer.
De noite me arrumo com muitas roupas, mas roupas pequenas. Vejo-me linda e provocante em frente ao espelho. Com meus negros cabelos lisos soltos, dando-me um ar de mulher misteriosa. Com os meus grandes seios quase pulando da blusa. Com minha barriga a enlouquecer qualquer um.
Não tenho amigas para telefonar. Claro, não tenho amores para corresponder, a não ser pelos clientes que juram estar apaixonados por mim. Quantos já disseram que iam largar suas esposas para casarem-se comigo? Eu nem conto mais. Quando que algum deles iria realmente fazer isso? Piada. Para eles eu sou só a puta, pela qual eles pagam, controlam, comandam, divertem-se. Para eles eu sou só uma companhia a parte, que precisa deles (do dinheiro deles), que tem que escutar os seus problemas e fazê-los relaxar. E eu finjo que é assim. Por um lado, realmente preciso deles para pagar as contas. Por outro, seduzo-os tanto que eles chegam a precisar de mim, e até a ver em mim uma amiga, às vezes. Uma confidente com a qual eles podem transar também.
Hoje fui para o trabalho, cansada dessa rotina, mas é sempre assim e nunca nada eu faço para mudá-la. Ao chegar, olhei em volta, tantas prostituas no bordel. Loiras, ruivas, morenas. Pequenas, grandes, gostosas. De todos os tipos, se você quer saber.
Parecia que eles podiam sentir a minha falta de vontade. Tive apenas dois clientes hoje. Que ironia. Um garotinho virgem, fazendo aniversário. E um velho safado.
O quase começo e o quase fim.
Ser prostitua exige muito da mulher. Ela não tem apenas que saber abrir as pernas e fazer oral. Precisa também ser professora, amiga, psiquiatra, objeto e muito mais.
O garotinho era engraçado. Não tinha ainda 18 anos, nem cara, nem corpo. Era magro, loiro, usava uns óculos grandes. Aparentava ser um daqueles nerdzinhos que passam o fim de semana se masturbando no banheiro. Achei-o, sei lá, fofinho. Aquele jeitinho tímido, certinho sabe? Com eles assim, eu sou bastante carinhosa. E tenho que ser, afinal, primeira vez a gente nunca esquece. Mas se eu fosse um cara assim, nunca perderia minha virgindade com uma prostituta. Certo que na posição dele, creio eu que talvez não seja fácil arranjar alguma menina decente para transar, mas, ainda sim, primeira vez é uma coisa importante, e eu não gostaria de lembrar que tive que pagar para ter meu primeiro orgasmo dentro do corpo de uma mulher.
O sexo com ele foi engraçado também, se é que posso chamar aquilo de sexo. Ele não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Estava nervoso e muito tímido, mesmo sabendo que tinha o direito de estar. Mas com prazer eu o ajudei. O garoto gozou rápido. Depois, pareceu querer ficar comigo, quase me fazendo rir. Mas eu entendi.
Ainda teve aquele velho safado e tarado. Se alguém me pedisse para descrevê-lo eu diria: “Um daqueles pervertidos, que fica olhando as criancinhas com desejo, passando a mão em suas pernas, fingindo que está acariciando. Um daqueles pervertidos que olha a cunhada pela fechadura da porta do banheiro, enquanto ela toma banho. Um daqueles pervertidos que passa o dia na internet tentando convencer alguma adolescente virgem de que só quer ser seu amigo. Um daqueles pervertidos que não precisa de hora e nem de lugar para tentar se estimular.”. Mas, para tirar esse nojo do meu olhar, lembrei-me de que é isso que me deixa debaixo de um teto.
Ele chegou quase babando, querendo chupar o meu corpo. E eu tive que gemer palavras de desejo. Olhar para ele com cara de safada. Pedir que ele não parasse de me alisar. A minha vontade era de mandá-lo tomar no cu, quando via aquele olhar de secura mirado em mim, mas, ao invés disso, eu posicionava-me melhor na cama, para que ele pudesse se divertir. Para ser prostituta a mulher não pode ter estômago fraco.
Recolhi meu dinheiro, depois de cada um dos programas. Dei a parte do dono da boate onde eu trabalho, Jamie Jerkoff, e parti para casa a pé, por uma rua escura. Será que sou a única prostituta quem tem a vida vazia assim?
Cheguei a casa, joguei as botas de lado. Liguei a televisão em um canal sem programas, chiando, para ficar olhando e brincar da minha brincadeira preferida de quando era apenas uma garota inocente, imaginar naqueles pontinhos de cor cinza histórias e histórias se formando. Fiquei horas fazendo aquilo. Não tinha problema. Não tem problema. Amanhã, graças a sei lá o que, não precisarei acordar cedo mesmo.

domingo, 30 de novembro de 2008

Vívian de que?

domingo, 30 de novembro de 2008

Tudo é só questão de instinto. Obedecer ao corpo por que não sabemos explicar o que estamos sentindo. Chamamos de instinto aquilo que fazemos, aquilo que queremos, aquilo de que precisamos, tudo o que não sabemos compreender.

Ele, aquele meu velho e único amigo, o qual não sei como, consegui preservar desde a adolescência, perguntava-me de forma seca e íntima, “Por quê você trepa, se não goza?”. Achei tola a pergunta. Tinha vontade de responder: “Por que eu sou uma prostituta, oras! Dou para comer, e não para ter prazer!”. Mas por ser uma das poucas pessoas que convivem comigo, respondi calmamente que eu gostaria muito de ter marido e filhos, uma casinha aconchegante, um dinheirinho no banco e um carrinho qualquer, onde meu cachorro faria xixi nas rodas quando eu chegasse a casa nele, mas que minha vida, infelizmente, tinha tomado um rumo diferente, que não tive a sorte e a base necessária. Que nunca fui instruída para aquilo. Só cresci na sempre presente ambição de ser rica e o único jeito que minha ingênua pessoa encontrou para isso no finzinho de sua adolescência foi o da prostituição.

Ele parecia entender, ou pelo menos aceitar. Não é qualquer um que consegue ultrapassar o preconceito com mulheres da vida. Acho que em sua cabeça havia consciência de que eu nunca tivera encontrado oportunidades melhores.

E sempre foi assim pra mim.

As pessoas costumam me olhar de três formas apenas. Desejando-me, desprezando-me ou tendo pena de mim. Acho que elas nunca pararam para pensar no porque de eu ter escolhido aquele caminho, antes de cuspir nas minhas pegadas.

Eu nunca tive ninguém. Sempre me julguei dona do próprio nariz, o que era só um eufemismo para disfarçar a minha necessidade de atenção. Meus pais nunca souberam me educar. Achavam que o modo de ensinar era dizer o que fazer e pronto. Eles me criavam na base do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, achando que isso me tornaria uma pessoa decente, quando na verdade quase tudo que eu sou hoje é reflexo de suas atitudes. Eles sempre brigavam comigo e me chamavam de mal-agradecida. Diziam que eu deveria era bater na boca e levantar as mãos pro céu, ao invés de criticar tudo que eu tinha. O que meus pais não entendiam era que eu reclamava apenas da falta de amor. Nasci pura, nasci virgem, nasci inocente, mas tudo isso se perdeu naquele abismo de solidão. E fui muito tola, por que de um abismo passei para um universo. Cheio de gente e ao mesmo tempo sem ninguém. Perdi-me num mundo de egoísmo, de falta de amor, e me achei, como único jeito de sobreviver, na prostituição.

Estar com esse meu amigo, o Larry, sempre me causa certa nostalgia. Retorno à minha adolescência, desço até a raiz do meu ser e me julgo, analisando cada atitude que tomei. Normalmente, ele me faz perguntas aparentemente bobas, mas que me fazem refletir bastante. Mas dessa vez foi realmente uma indagação vã.

Das perguntas que ele me fez a que mais me alugou foi a última. A de “quem é você”.

- Quem sou eu? – Perguntei em seguida.

- É, quem é você?

- Quem sou eu para você, Larry?

- Não é isso que você tem que saber, mas para mim você é Lúcia.

- Eu não sou um alguém fixo. Para você eu sou a Lúcia, meu nome verdadeiro, minha pessoa verdadeira. Mas para cada cliente sou uma pessoa diferente. Isso depende do papel que eu vou ter que representar. Às vezes a moça inocente, “você é meu primeiro cliente”, às vezes a experiente, “eu sou sua primeira mulher”. Outras vezes tenho apenas que corresponder à expectativa de que toda prostituta é safada, faz por que quer, por que gosta e não por que precisa. E é isso que eu finjo ser, por que, como você deve imaginar, eu não dou por prazer, eu não dou por que quero, eu dou para comer. (que humilhante, pensei) E se gemer seus nomes enquanto finjo orgasmos trepando com homens acabados for pagar o meu aluguel, vou ter que continuar aceitando que para ser prostituta, também é necessário ser atriz. Afinal, eu sempre achei que o que eles querem não é prazer, e sim se sentirem desejados por uma mulher gostosa, mesmo que para isso tenham que pagar.

Mas isso não respondeu à dúvida imensa que ficou dentro de mim. Quem sou eu, enfim?

E há um instinto, do qual não sei nem o nome, nem explicar como ele é, que me diz que estou prestes a descobrir.Será?

 
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