segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mais um dia nublado.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Sempre odiei acordar cedo. Felizmente, nunca precisei. A minha rotina é bem diferente.
De manhã, acordo a qualquer hora. Não trabalho de dia mesmo. Fico andando pelo meu apartamento pequeno, escuro... vazio. Como alguma coisa. Vejo um pouco de televisão. Saio para olhar a rua, os pombos. Sinto frio.
De tarde, como outra vez. Vejo umas revistas de beleza. Compro algumas roupas. Sonho um pouco com uma vida diferente, mas paro antes que comece a escurecer.
De noite me arrumo com muitas roupas, mas roupas pequenas. Vejo-me linda e provocante em frente ao espelho. Com meus negros cabelos lisos soltos, dando-me um ar de mulher misteriosa. Com os meus grandes seios quase pulando da blusa. Com minha barriga a enlouquecer qualquer um.
Não tenho amigas para telefonar. Claro, não tenho amores para corresponder, a não ser pelos clientes que juram estar apaixonados por mim. Quantos já disseram que iam largar suas esposas para casarem-se comigo? Eu nem conto mais. Quando que algum deles iria realmente fazer isso? Piada. Para eles eu sou só a puta, pela qual eles pagam, controlam, comandam, divertem-se. Para eles eu sou só uma companhia a parte, que precisa deles (do dinheiro deles), que tem que escutar os seus problemas e fazê-los relaxar. E eu finjo que é assim. Por um lado, realmente preciso deles para pagar as contas. Por outro, seduzo-os tanto que eles chegam a precisar de mim, e até a ver em mim uma amiga, às vezes. Uma confidente com a qual eles podem transar também.
Hoje fui para o trabalho, cansada dessa rotina, mas é sempre assim e nunca nada eu faço para mudá-la. Ao chegar, olhei em volta, tantas prostituas no bordel. Loiras, ruivas, morenas. Pequenas, grandes, gostosas. De todos os tipos, se você quer saber.
Parecia que eles podiam sentir a minha falta de vontade. Tive apenas dois clientes hoje. Que ironia. Um garotinho virgem, fazendo aniversário. E um velho safado.
O quase começo e o quase fim.
Ser prostitua exige muito da mulher. Ela não tem apenas que saber abrir as pernas e fazer oral. Precisa também ser professora, amiga, psiquiatra, objeto e muito mais.
O garotinho era engraçado. Não tinha ainda 18 anos, nem cara, nem corpo. Era magro, loiro, usava uns óculos grandes. Aparentava ser um daqueles nerdzinhos que passam o fim de semana se masturbando no banheiro. Achei-o, sei lá, fofinho. Aquele jeitinho tímido, certinho sabe? Com eles assim, eu sou bastante carinhosa. E tenho que ser, afinal, primeira vez a gente nunca esquece. Mas se eu fosse um cara assim, nunca perderia minha virgindade com uma prostituta. Certo que na posição dele, creio eu que talvez não seja fácil arranjar alguma menina decente para transar, mas, ainda sim, primeira vez é uma coisa importante, e eu não gostaria de lembrar que tive que pagar para ter meu primeiro orgasmo dentro do corpo de uma mulher.
O sexo com ele foi engraçado também, se é que posso chamar aquilo de sexo. Ele não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Estava nervoso e muito tímido, mesmo sabendo que tinha o direito de estar. Mas com prazer eu o ajudei. O garoto gozou rápido. Depois, pareceu querer ficar comigo, quase me fazendo rir. Mas eu entendi.
Ainda teve aquele velho safado e tarado. Se alguém me pedisse para descrevê-lo eu diria: “Um daqueles pervertidos, que fica olhando as criancinhas com desejo, passando a mão em suas pernas, fingindo que está acariciando. Um daqueles pervertidos que olha a cunhada pela fechadura da porta do banheiro, enquanto ela toma banho. Um daqueles pervertidos que passa o dia na internet tentando convencer alguma adolescente virgem de que só quer ser seu amigo. Um daqueles pervertidos que não precisa de hora e nem de lugar para tentar se estimular.”. Mas, para tirar esse nojo do meu olhar, lembrei-me de que é isso que me deixa debaixo de um teto.
Ele chegou quase babando, querendo chupar o meu corpo. E eu tive que gemer palavras de desejo. Olhar para ele com cara de safada. Pedir que ele não parasse de me alisar. A minha vontade era de mandá-lo tomar no cu, quando via aquele olhar de secura mirado em mim, mas, ao invés disso, eu posicionava-me melhor na cama, para que ele pudesse se divertir. Para ser prostituta a mulher não pode ter estômago fraco.
Recolhi meu dinheiro, depois de cada um dos programas. Dei a parte do dono da boate onde eu trabalho, Jamie Jerkoff, e parti para casa a pé, por uma rua escura. Será que sou a única prostituta quem tem a vida vazia assim?
Cheguei a casa, joguei as botas de lado. Liguei a televisão em um canal sem programas, chiando, para ficar olhando e brincar da minha brincadeira preferida de quando era apenas uma garota inocente, imaginar naqueles pontinhos de cor cinza histórias e histórias se formando. Fiquei horas fazendo aquilo. Não tinha problema. Não tem problema. Amanhã, graças a sei lá o que, não precisarei acordar cedo mesmo.

0 comentários:

 
Design by Pocket